Temperatura sobe na COP28 e ONU critica postura dos países
O diretor da agência ONU Clima criticou nesta quarta-feira (6) a postura dos países e fez um apelo a favor do avanço das negociações que pretendem estabelecer metas mais ambiciosas de combate às mudanças climáticas, o que passa por tomar uma decisão sobre o uso de combustíveis fósseis.
"Nós temos um texto inicial sobre a mesa, mas está repleto de desejos", declarou Simon Stiell à imprensa, em uma referência às posições maximalistas dos negociadores na conferência.
Os países devem parar de "fingir exageradamente", acrescentou.
A COP28 chegou à metade de seu cronograma com as posições dos blocos de países muito distantes, segundo várias fontes.
Ao mesmo tempo, o observatório do clima europeu Copernicus alertou que o planeta atingiu em novembro o sexto mês consecutivo de recorde de temperatura, o que significa que 2023 será o ano mais quente já registrado.
- Situação "dinâmica" -
A 28ª conferência da ONU sobre as mudanças climática, que tem a presidência dos Emirados Árabes Unidos, termina oficialmente em 12 de dezembro.
O principal objetivo do evento é elevar a ambição coletiva para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, com novos prazos, compromissos mais rigorosos e dados de financiamento concretos.
O ponto de partida é o balanço da ação climática desde o Acordo de Paris de 2015, que foi revelado em setembro e provoca muitos questionamentos.
A situação é "muito dinâmica" em todos os capítulos que devem ser negociados", afirmou uma fonte que acompanha as discussões.
Em alguns aspectos, como o dedicado à adaptação às mudanças climáticas, não há qualquer consenso sobre o rascunho, advertiu uma fonte latino-americana que pediu anonimato.
A ONU anunciou nesta quarta-feira que o projeto de 24 páginas que foi discutido ao longo da terça-feira será enviado à assembleia geral, que reúne quase 200 países, na noite de quarta-feira (horário local).
A partir deste momento, o presidente da COP28, Sultan Ahmer Al Jaber, deve anunciar as próximas fases das negociações.
As conferências do clima da ONU geralmente são coordenadas pelos ministros na segunda fase e até ao final.
- "Reduzir" x "Abandonar" -
As organizações de defesa do meio ambiente e os governos mais comprometidos com o combate contra o aquecimento do planeta insistem que é necessário abandonar o uso dos combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão) como fontes energéticas o mais rápido possível.
Os países produtores de petróleo, liderados pela Arábia Saudita, são contrários a uma frase muito rigorosa, pois consideram que estas fontes ainda têm um papel importante a desempenhar na transição energética.
Segundo os cientistas, quanto mais cedo o mundo abandonar estas fontes de energia, mais rápido alcançará a meta de manter a temperatura média do planeta em no máximo +1,5ºC na comparação com à média registrada no período pré-industrial.
- Recorde da temperatura nos oceanos -
Segundo o observatório do clima europeu Copernicus, o mês de novembro superou em 0,32ºC o recorde anterior para o período, registrado em novembro de 2020.
A temperatura média na superfície terrestre foi de 14,22ºC .
Foi também 1,75ºC mais quente que a estimativa da média do mês de novembro entre 1850 e 1900, período de referência da era pré-industrial.
O outono (hemisfério norte, primavera no Brasil) de 2023 foi o mais quente da história "por ampla margem", com 15,30ºC, ou seja, 0,88ºC acima da média.
"O ano de 2023 tem seis meses e duas estações recordes. As temperaturas globais excepcionais de novembro, com dois dias com 2°C acima dos (níveis) pré-industriais, significam que 2023 será o ano mais quente dos registros históricos", afirmou em um comunicado Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudanças Climáticas (C3S) do Programa Copernicus.
O ano de 2023 registrou uma série de fenômenos meteorológicos extremos devastadores relacionados com as mudanças climáticas.
O fenômeno climático cíclico El Niño, que acontece no Pacífico, reforçou o aumento das temperaturas em 2023, mas provocou menos "anomalias" até o momento que no período 2015-2016. Porém, ainda não atingiu o seu pico.
Em novembro de 2023, a temperatura na superfície dos oceanos também foi a mais elevada para este período do ano, 0,25°C acima do recorde anterior, estabelecido em novembro de 2015. Este recorde mensal de calor entra para a lista de marcas superadas a cada mês desde abril.
(M.Travkina--DTZ)