Presidente da Moldávia celebra vitória em referendo da UE, repleto de denúncias de interferências russas
A presidente europeísta da Moldávia, Maia Sandu, afirmou nesta segunda-feira (21), que seu lado "ganhou honestamente uma luta injusta" após um referendo para blindar o processo de adesão à União Europeia na Constituição, marcado por supostas interferências russas.
Em paralelo, Sandu ficou em primeiro lugar nas eleições presidenciais com 42% dos votos e disputará o segundo turno no dia 3 de novembro contra Alexandr Stoianoglo, candidato apoiado pelos socialistas pró-russos. O político, de 57 anos, obteve 26% dos votos.
No referendo, a ex-república soviética aprovou por apenas 50,45% a proteção constitucional do processo de adesão à União Europeia. A consulta ocorreu em um contexto geopolítico tenso, em um país que faz fronteira com a Romênia e a Ucrânia, que enfrenta uma invasão russa desde 2022.
A presidente, de 52 anos, denunciou "interferências sórdidas" durante a votação e disse que o seu lado "ganhou honestamente uma luta injusta", em uma referência velada à Rússia.
O Kremlin exigiu imediatamente "provas" destas "graves acusações" e denunciou "anomalias" na contagem dos votos.
Durante a apuração dos votos, ela não dominou por muito tempo. Mas os votos da diáspora mudaram o resultado final.
"Vencemos uma primeira batalha em uma luta difícil que determinará o futuro do nosso país", declarou Sandu em um vídeo no Facebook. Na sua primeira reação, à meia-noite de domingo, denunciou "um ataque sem precedentes contra a democracia".
"Grupos criminosos, que agem em comum acordo com forças estrangeiras hostis aos nossos interesses nacionais, atacaram o nosso país com dezenas de milhões de euros, mentiras e propaganda", disse.
A Comissão Europeia, que acompanhou de perto estas votações, afirmou que ocorreram em um contexto de "interferência sem precedentes" da Rússia.
"Perante as táticas híbridas da Rússia, a Moldávia mostra que é independente e forte, e que quer um futuro europeu", escreveu a presidente do Executivo europeu, Ursula von der Layen, na rede social X.
A Moldávia, com 2,6 milhões de habitantes, tem uma região separatista pró-Rússia no sudeste de seu território, chamada Transnístria, que abriga uma guarnição de soldados russos.
- Segundo turno difícil -
Sandu, que virou as costas a Moscou após a invasão russa à Ucrânia, apresentou a Bruxelas, sede do Executivo europeu, a candidatura de seu país para integrar a UE. Ela convocou o referendo para validar sua estratégia, mas sua aposta bateu em um muro.
Sem colocar em dúvida as negociações de adesão com os 27 Estados-membros, a vitória apertada "enfraquece um pouco a imagem pró-europeia da população e a liderança de Maia Sandu", comentou o cientista político francês Florent Parmentier, especialista na região.
A presidente da Moldávia tornou-se em 2020 a primeira mulher a ocupar um dos principais cargos do país. Em apenas quatro anos, a ex-economista do Banco Mundial, com fama de incorruptível, tornou-se uma importante figura europeia de destaque.
Antes do referendo, a Moldávia deu motivos de esperança a Bruxelas, em um contexto geopolítico complicado, com a Ucrânia em guerra e a Geórgia acusada de autoritarismo pró-Rússia, destacou o cientista político.
Mas após o resultado apertado, a vitória de Sandu no segundo turno da eleição presidencial, em 3 de novembro, não é uma certeza.
Sandu liderou o primeiro turno, mas Stoianoglo pode receber os votos de muitos candidatos pequenos e "a terrível armadilha do 'Todos contra Sandu'" pode prejudicar a atual presidente, aponta o analista.
"Temos grandes chances de ganhar em 3 de novembro e ganharemos", disse Stoianoglo.
Durante a campanha, Stoianoglo pediu a "restauração da justiça" diante de um governo que, segundo a oposição, estava disposto a cortar direitos. Ele também defendeu uma política externa "equilibrada", da UE à Rússia.
(V.Korablyov--DTZ)