Extrema direita perto de vitória histórica na Áustria
Após um resultado muito ruim há cinco anos, a extrema direita retornou com força nas eleições legislativas deste domingo (29) na Áustria e, caso as primeiras projeções sejam confirmadas, caminha para uma vitória histórica.
O Partido da Liberdade (FPÖ), de Herbert Kickl, conquistaria 29,1% dos votos, o que representa 13 pontos a mais que nas eleições de 2019, segundo as projeções publicadas após o final da votação.
"Tenho um bom pressentimento. O ambiente é positivo e acredito que teremos sucesso nas urnas", declarou Kickl depois de votar em Purkersdorf, na região de Viena.
Em um contexto de ascensão dos partidos radicais na Europa, a legenda fundada por antigos nazistas registra resultados melhores do que apontavam as pesquisas.
O atual partido governante, o conservador ÖVP (Partido Popular da Áustria), do chanceler Karl Nehammer, ficaria em segundo lugar, com 26,2% dos votos.
Após cinco anos de uma aliança inédita entre conservadores e ecologista no governo, o avanço da extrema direita representa um terremoto na Áustria, onde o FPÖ já integrou o governo, mas nunca foi o partido mais votado em um pleito nacional.
Porém, o ácido Kickl, tão extremista que nenhum partido deseja governar com ele, não tem garantida a posição de chefe de Governo.
- Popularidade crescente -
Desde 2021, quando Herbert Kickl assumiu a liderança do partido, marcado pela corrupção, a popularidade da legenda cresceu graças à irritação dos eleitores com temas como imigração, inflação, e as restrições pela covid, como aconteceu com outros partidos de extrema direita na Europa.
O ex-ministro do Interior, de 55 anos, fez campanha para as legislativas, nas quais mais de 6,3 milhões estavam aptas a votar entre os nove milhões de habitantes do país, com slogans como "Ouse tentar algo novo".
O FPÖ integrou o Executivo pela primeira vez em 2000, o que gerou protestos no país e sanções da União Europeia.
"Desta vez será diferente (...) desta vez nós vamos vencer a eleição", declarou Kickl na sexta-feira em Viena.
No discurso, ele criticou as sanções da UE contra a Rússia, atacou o atual governo e insistiu no conceito de "remigração", que defende a expulsão de pessoas de origem étnica não europeia que não teriam se integrado plenamente ao país.
- Possíveis alianças -
O conservador Nehammer, 51 anos, apresentou o discurso de um partido "no centro" do espectro político, apesar da sua posição contundente sobre a imigração.
O chanceler reiterou sua recusa a trabalhar com Kickl, que se autodenomina o futuro "Volkskanzler", o chanceler do povo, um termo usado com Adolf Hitler na década de 1930.
"Há muito em jogo", insistiu, depois de votar neste domingo, em referência às eleições decisivas para o futuro da Europa e à guerra na Ucrânia.
Apesar da queda de mais de 10 pontos na popularidade dos conservadores na comparação com 2019, o ÖVP, no poder desde 1987, deverá – exceto surpresas – conservar o posto de chefe de Governo, embora as negociações para encontrar aliados prometam ser longas.
Embora Nehammer repita que não deseja estabelecer uma aliança com Herbert Kickl, não descarta uma possível coalizão com os "azuis" do FPÖ, como aconteceu em 2000 e 2017.
Se a ampla vitória do FPÖ for confirmada, os conservadores não aceitarão ser o parceiro minoritário, apontam os analistas. Provavelmente, optarão por unir forças com os social-democratas (20,4%) e com um terceiro partido, que poderia ser o liberal NEOS.
Com os Verdes em queda expressiva (8,6%), há muitos pontos de divergência e o divórcio parece definitivo.
(O.Zhukova--DTZ)