Presidente de Bangladesh dissolve o Parlamento após renúncia e fuga da primeira-ministra
O presidente de Bangladesh, Mohamed Shahabuddin, dissolveu nesta terça-feira (6) o Parlamento, uma das principais exigências da mobilização estudantil que provocou a renúncia na segunda-feira da primeira-ministra Sheikh Hasina, que fugiu do país.
"O presidente dissolveu o Parlamento", anunciou Shiplu Zaman, porta-voz da presidência.
O movimento estudantil, que convocou os grandes protestos que abalam o país desde o início de julho, havia solicitado a dissolução do Parlamento, assim como o principal partido de oposição, o Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP).
Ambos exigem a convocação de eleições em um prazo de três meses. Um dos líderes do principal movimento estudantil pediu nesta terça-feira que Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz em 2006, lidere o governo interino.
Os militares tomaram o controle do governo do país de 171 milhões de habitantes na segunda-feira, depois que a primeira-ministra renunciou ao cargo após mais de um mês protestos violentos.
As manifestações começaram após a reintrodução de um polêmico sistema de cotas que reservava mais da metade dos empregos públicos para determinados grupos da população.
Os protestos deixaram pelo menos 413 mortos, segundo um balanço da AFP baseado em informações divulgadas pela polícia, autoridades e fontes médicas, e terminaram com a fuga de helicóptero de Hasina, de 76 anos e que governava o país de maioria muçulmana há 15 anos.
Hasina foi acusada de usar o aparato estatal para permanecer no poder. Sua rival política, a ex-primeira-ministra e líder da oposição Khaleda Zia, foi libertada nesta terça-feira, depois de passar anos em prisão domiciliar, informou o porta-voz do BNP.
Zia, 78 anos, foi condenada em 2018 a 17 anos de prisão por corrupção.
- Polícia pede perdão -
Hasina, acusada em janeiro de fraude nas eleições, pousou em uma base militar perto de Nova Délhi, segundo a imprensa indiana. Mas uma fonte de alto escalão do governo afirmou que ela estava apenas em uma escala e que pretende viajar para Londres.
O governo britânico solicitou, no entanto, uma investigação na ONU dos "níveis inéditos violência" empregados em Bangladesh, o que provoca dúvidas sobre a viagem de Hasina até a capital do Reino Unido.
Em um comunicado, o principal sindicato da polícia pediu "perdão" por ter atirado contra os estudantes.
A organização afirma que os policiais foram obrigados a "abrir fogo" contra os jovens e que, depois, foram apresentados como os "vilões". Também anunciou uma greve para garantir a segurança dos agentes.
O comandante do Exército, general Waker-Uz-Zaman, deve se reunir com os líderes do movimento estudantil. Na segunda-feira, ele prometeu reparar "todas as injustiças" e suspender o toque de recolher no país. Também anunciou a formação de um governo interino.
"Confiamos no doutor Yunus", escreveu no Facebook Asif Mahmud, um dos principais líderes do grupo 'Students Against Discrimination' (Estudantes Contra a Discriminação).
Yunus, 84 anos, não reagiu às demandas, mas afirmou em uma entrevista ao jornal indiano The Print que, com Hasina, "Bangladesh era um país ocupado".
Yunus é conhecido por tirar milhões de pessoas da pobreza graças à concessão de microcréditos aos mais vulneráveis. Hasina o acusou de "sugar o sangue" dos pobres.
Um dos colaboradores do economista, atualmente na Europa, afirmou na segunda-feira que ele não recebeu nenhuma oferta do Exército para liderar um governo interino.
- Comércio reabre em Daca -
Na segunda-feira à noite, o presidente ordenou a libertação das pessoas detidas durante as manifestações.
Milhões de bengaleses lotaram as ruas de Daca, a capital, a após a renúncia da primeira-ministra.
Os manifestantes invadiram o Parlamento e incendiaram canais de televisão. Algumas pessoas derrubaram estátuas do pai de Hasina, Sheikh Mujibur Rahman, que liderou a luta pela independência contra o Paquistão em 1971.
A situação estava mais tranquila nesta terça-feira na capital, onde o trânsito foi liberado e o comércio reabriu as portas.
Os prédios da administração pública, no entanto, permaneceram fechados, após uma segunda-feira de muita violência que deixou pelo menos 113 mortos.
(P.Tomczyk--DTZ)