Premiê de Bangladesh foge do país e militares anunciam governo provisório
A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, renunciou e fugiu do país nesta segunda-feira (5), após protestos que deixaram quase 100 mortos no fim de semana, enquanto os militares anunciavam a formação de um governo interino.
Hasina, apelidada de Dama de Ferro, estava no poder há 15 anos. Esta política de 76 anos tentou sufocar as grandes manifestações que sacudiram o país desde o início de julho, mas foi obrigada a fugir após um dia de distúrbios que deixou quase 100 mortos no domingo.
Em uma mensagem à nação exibida pela televisão estatal, o comandante do Exército, general Waker-Uz-Zaman, declarou que Hasina renunciou e que os militares formarão um governo interino.
"O país sofreu muito, a economia foi afetada, muitas pessoas morreram, é o momento de acabar com a violência", disse Waker.
Hasina fugiu do país de helicóptero, informou à AFP uma fonte próxima ao governo.
Pouco depois, centenas de manifestantes invadiram sua residência oficial em Daca, a capital do país. A fonte, que falou na condição de anonimato, informou que em um primeiro momento Hasina tentou sair do local em um veículo.
"Queremos um país livre de corrupção, onde todos tenham o direito de expressar a sua opinião", disse Monirul Islam, um manifestante de 27 anos que comemorou nas ruas da capital, Daca.
Milhares de pessoas exibiram bandeiras e algumas subiram em um tanque nesta segunda-feira, após mais de um mês de protestos violentos neste país muçulmano de 171 milhões de habitantes, com uma economia muito dependente da indústria têxtil.
As manifestações começaram em julho, após a reintrodução de um sistema de cotas que reservava mais da metade dos empregos públicos para determinados grupos. Os críticos alegaram que este sistema de cotas beneficiaria grupos leais ao partido Liga Awami de Hasina.
Ao menos 356 pessoas morreram desde o início das manifestações, em 1º de julho, segundo uma contagem da AFP baseada em informações divulgadas pela polícia, autoridades e médicos em hospitais.
O presidente de Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, ordenou nesta segunda-feira a libertação dos manifestantes presos e do ex-primeiro-ministro preso e importante líder da oposição Khaleda Zia, horas depois da renúncia de Hasina.
- Estátua derrubada -
O Canal 24 de Bangladesh exibiu imagens da multidão invadindo a residência oficial da primeira-ministra, acenando para as câmeras e comemorando a fuga da chefe de Governo.
Outros manifestantes derrubaram uma estátua do pai de Hasina, Mujibur Rahman, herói da independência do país em 1971.
Durante os distúrbios, as forças de segurança apoiaram o governo de Hasina. Diante da magnitude dos protestos, o Supremo Tribunal flexibilizou o sistema de cotas, mas as manifestações prosseguiram e começaram a exigir a renúncia de Hasina.
Dada a magnitude dos protestos, o Supremo Tribunal reduziu, mas não revogou, o sistema de cotas para funcionários públicos, mas as manifestações continuaram e tornaram-se um movimento contra o governo.
Ao menos 94 pessoas morreram no domingo, incluindo 14 policiais, no dia mais violento desde o início dos protestos.
Manifestantes e partidários do governo se enfrentaram em todo o país com pedaços de pau e facas. As forças de segurança abriram fogo contra os protestos.
- "Protesto final" -
Grupos de defesa dos direitos humanos acusaram seu governo de usar instituições para se consolidar no poder e reprimir a dissidência, inclusive através de execuções extrajudiciais de ativistas da oposição.
O general Ikbal Karim Bhuiyan, um respeitado ex-chefe do Exército, pediu no domingo a retirada das tropas das ruas e a autorização de protestos, um gesto que foi interpretado como um desafio a Hasina.
Os soldados e a polícia nem sempre intervieram para impedir os protestos de domingo, ao contrário do que aconteceu no último mês.
O movimento contra o governo ganhou o apoio de vários setores da sociedade, incluindo estrelas de cinema, músicos e cantores.
"Chegou a hora do protesto final", declarou Asif Mahmud, um dos principais líderes do movimento de protesto.
A União Europeia apelou à "moderação" nesta segunda-feira e pediu uma transição "ordenada e pacífica" para um governo eleito democraticamente.
(V.Varonivska--DTZ)