Deutsche Tageszeitung - Combates prosseguem no Sudão apesar das ameaças de sanções dos EUA

Combates prosseguem no Sudão apesar das ameaças de sanções dos EUA


Combates prosseguem no Sudão apesar das ameaças de sanções dos EUA
Combates prosseguem no Sudão apesar das ameaças de sanções dos EUA / foto: © AFP

O Exército regular do Sudão, que enfrenta os paramilitares pelo controle do país, anunciou, nesta sexta-feira (5), o envio de negociadores à Arábia Saudita com vistas a uma trégua, depois de três semanas que deixaram centenas de mortos.

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O conflito que sacode este país do nordeste da África, de 45 milhões de habitantes, começou em 15 de abril e opõe as forças do general Abdel Fatah al Burhan e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo.

As duas partes estabeleceram várias tréguas desde a explosão de violência, mas nenhuma foi respeitada até agora. Na capital, Cartum, os moradores acordaram nesta sexta com novos bombardeios e tiros de metralhadoras, relataram testemunhas à AFP.

No entanto, na última hora desta sexta, Al Burhan anunciou que tinha enviado negociadores a Jidá, na Arábia Saudita, para falar dos "detalhes da trégua".

O comandante do Exército havia apoiado um cessar-fogo de sete dias, anunciado na quarta-feira pelo Sudão do Sul. As FAR, por sua vez, informaram ter ampliado em três dias uma trégua anterior mediada pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita.

Também vão a Jidá representantes do Reino Unido, dos Emirados Árabes Unidos e dos Estados Unidos, informou um diplomata saudita.

Os confrontos, especialmente violentos em Cartum e na região ocidental de Darfur, deixaram cerca de 700 mortos até agora, segundo a ONG ACLED, que registra as vítimas dos conflitos.

- Crianças em perigo -

Os combates se intensificaram apesar de que o presidente americano, Joe Biden, ter ameaçado impor novas sanções.

O presidente pediu, nesta quinta, o fim "da tragédia" e alertou que poderia impor sanções aos "indivíduos que ameaçam a paz".

O país, um dos maiores da África, já sofreu décadas de sanções durante o governo do autocrata Omar al Bashir, deposto pelo Exército em 2019 após protestos maciços.

A diretora de inteligência americana, Avril Haines, alertou na quinta que o conflito se "prolongará" porque "ambos os grupos pensam que podem vencê-lo militarmente e têm poucas razões para ir às negociações".

O Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, alertou nesta sexta que "a situação no Sudão se tornou letal para um número assustadoramente alto de crianças".

James Elder, porta-voz da agência, assegurou que o Unicef havia recebido informação de uma organização confiável -, mas que a ONU ainda não pôde verificar de forma independente - segundo a qual 190 crianças morreram e 1.700 ficaram feridos entre 15 e 26 de abril.

Elder informou que os dados foram fornecidos por estabelecimentos sanitários de Cartum e Darfur (oeste), razão pela qual só incluem as crianças que conseguiam chegar a estas instalações.

"É provável que a realidade seja muito pior", advertiu.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU declarou que realizaria uma sessão especial na próxima quinta-feira "para abordar o impacto do conflito em curso sobre os direitos humanos".

A guerra provoca um êxodo maciço da população. Quase 450.000 pessoas fugiram até agora e 115.000 deles cruzaram as fronteiras, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

A ONU pede US$ 444 milhões de dólares para ajudar o país, um dos mais pobres do mundo. Um total de 860.000 pessoas, não só sudaneses, poderiam cruzar as fronteiras nos próximos meses, advertiu.

- Mediação internacional -

O conflito ameaça deixar 2,5 milhões de pessoas a mais em situação de desnutrição severa nos próximos três a seis meses, elevando o total de pessoas dependentes de ajuda alimentar chegará a 19 milhões, segundo projeções do Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Os esforços de mediação se multiplicaram desde o início do conflito, sobretudo na África e no Oriente Médio.

Um enviado de Burhan, Dafaallah al Haj, prometeu na capital etíope, Adis Abeba, que o governo do Sudão poria fim "em breve" a "esta rebelão", em alusão às FAR.

Os generais Burhan e Daglo protagonizaram um golpe de Estado em 2021 para expulsar os civis com os quais compartilham o poder após a queda de Al Bashir.

Mas seus diferentes pontos de vista sobre como se devia integrar às FAR no Exército acabaram levando a um confronto.

(V.Sørensen--DTZ)