Deutsche Tageszeitung - Paraguai às vésperas de sua eleição presidencial mais imprevisível

Paraguai às vésperas de sua eleição presidencial mais imprevisível


Paraguai às vésperas de sua eleição presidencial mais imprevisível
Paraguai às vésperas de sua eleição presidencial mais imprevisível / foto: © AFP

Os paraguaios votam no domingo (30), em sua eleição presidencial mais imprevisível, em meio a acusações de corrupção e de infiltração do crime organizado, para escolher entre o economista Santiago Peña, do governista Partido Colorado, e o advogado Efraín Alegre, à frente de um bloco de oposição de centro-esquerda.

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Com posições contrárias tanto em temas domésticos quanto de política externa, nas quais Alegre questiona a relações diplomáticas com Taiwan e Peña as defende, ambos concordam, no entanto, no repúdio à legalização do aborto.

O Paraguai é um dos poucos países que mantém vínculos com Taiwan, mas pouco depois da ruptura decidida por Honduras em março, Alegre considerou que essas relações "significam a perda de um dos maiores mercados, que é a China".

"O Paraguai faz um esforço muito importante, uma renúncia muito grande para ter relações com Taiwan, mas não estamos vendo de Taiwan o mesmo esforço", disse à AFP.

- Alternância? -

O direitista Peña, de 44 anos, ex-ministro da Economia e ex-membro da diretoria do Banco Central, enfrenta o desafio de manter o poder para o Partido Colorado, que governou quase ininterruptamente desde os anos 1950, mas chega a estas eleições muito dividido, com alguns de seus líderes mais importantes sancionados pelos Estados Unidos por corrupção.

Alegre, que aos 60 anos concorre à Presidência pela terceira vez, tem sua melhor chance, com o apoio de uma ampla coligação que o elegeu nas primárias em dezembro passado.

As últimas pesquisas mostram um empate técnico, um cenário inédito. Ainda que nas eleições anteriores, de 2018, o atual presidente, o colorado Mario Abdo Benítez, tenha vencido com uma diferença de 3,7% dos votos sobre Alegre, as pesquisas haviam lhe dado uma diferença maior.

"Não se vence com pesquisas, não se vence com currículo. Vence-se com o voto popular manifestado no dia das eleições", indicou Peña em entrevista à AFP.

- Dia definitivo -

As eleições presidenciais no Paraguai ocorrem em apenas um turno e serão definidas neste domingo a favor de quem obtiver a maior votação, sem necessidade de maioria absoluta.

Os 4,8 milhões de eleitores escolherão também o próximo Parlamento de 45 senadores e 80 deputados, além de 17 governadores.

A mais recente pesquisa feita pela Atlas entre os dias 20 e 24 de abril, com margem de erro de 2 pontos percentuais, indicou uma intenção de voto de 34,3% para Alegre e 32,8% para Peña. Em terceiro lugar figura Paraguayo Cubas, um direitista antissistema, com uma curva ascendente que o leva a 23%.

Porém, será a formação do Congresso que irá determinar a governabilidade, com um Partido Colorado que pode se dividir em duas bancadas, entre os que apoiam o ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), sancionado por corrupção pelos Estados Unidos e padrinho político de Peña, e os que apoiam o presidente Abdo.

"A pior oposição que Peña enfrentará, se vencer, será dentro de seu partido, não fora dele", comentou à AFP o analista político Sebastián Acha.

Corrupção e infiltração do crime organizado estão na lista de acusações mútuas das duas correntes do partido governista, com o vice-presidente Hugo Velázquez sancionado também pelos Estados Unidos.

- O trabalho a ser feito -

O próximo governo deverá enfrentar o combate à pobreza e à desigualdade em um cenário econômico global pouco favorável.

Com uma economia impulsionada pelas exportações de produtos agrícolas, o Banco Central paraguaio prevê, em 2023, crescimento de 4,8% do PIB. O FMI o estimou em 4,5%, um dos mais altos da América Latina.

Mas a pobreza alcança 24,7% dos 7,5 milhões de habitantes e a pobreza extrema, 5,6%, segundo a pesquisa domiciliar de 2022 do Instituto Nacional de Estatísticas.

Em Assunção, os contrastes são evidentes entre os luxuosos edifícios comerciais construídos nos últimos anos e os frágeis barracos levados pelo rio Paraguai a cada enchente.

"Nós não vamos votar. Não há propostas sérias para os pobres", disse Albino Cubas, um vigia particular de 41 anos, que perdeu sua casa na última inundação.

O consultor econômico Rubén Ramírez concordou que "o grande problema do Paraguai é não ter alcançado um equilíbrio maior na distribuição de renda para uma maior igualdade".

"O próximo governo vai enfrentar um panorama mundial complexo. Há imprevisibilidade sobre a evolução dos preços das commodities, em um contexto global de inflação", afirmou à AFP.

(W.Uljanov--DTZ)