Deutsche Tageszeitung - Mentiras sobre Brigitte Macron ultrapassam fronteiras da França

Mentiras sobre Brigitte Macron ultrapassam fronteiras da França


Mentiras sobre Brigitte Macron ultrapassam fronteiras da França
Mentiras sobre Brigitte Macron ultrapassam fronteiras da França / foto: © POOL/AFP

Rumores infundados de caráter sexista e transfóbico, segundo os quais Brigitte Macron "nasceu homem", estão se espalhando entre a extrema direita americana, em plena campanha presidencial.

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"INCRÍVEL: este é o maior escândalo na história da humanidade", diz para a câmera a blogueira americana Candace Owens, que, em 11 de março, garantiu que estava colocando "sua reputação em risco" para repercutir um "furo" que teria sido revelado por "jornalistas franceses".

Em um vídeo assistido mais de um milhão e meio de vezes no YouTube e que depois foi eliminado, Owens ataca violentamente Brigitte Macron, que usava o sobrenome Trogneux quando solteira, assegurando com documentos e fotos que, na realidade, ela seria uma mulher trans que nasceu com o nome de Jean-Michel.

O vídeo vinha acompanhado das "hashtags" #JeanMichelTrogneux e #BrigitteGate, que viralizaram.

Este rumor já circulava na França em 2021, poucas semanas antes das eleições presidenciais, difundido por grupos de extrema direita ou que divulgam teorias conspiratórias e que levaram Brigitte Macron a recorrer à Justiça.

O próprio Emmanuel Macron mencionou essa questão em 8 de março, Dia Internacional dos Direitos da Mulher, lamentando "as informações falsas e as montagens".

A "fonte" de Candace Owens para a sua informação é a publicação de extrema direita "Faits et Documents", criada em 1996, que divulgou em 2021 uma "investigação" sobre a questão.

Segundo Sophie Chauvet, doutoranda em Ciências da Informação, nos Estados Unidos a informação circulou primeiro por sites confidenciais como 4Chan, mas viralizou "quando 'influencers' [...] como o ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson e Candace Owens, que têm uma audiência muito grande, lhe deram visibilidade".

Todos são personalidades do campo ultraconservador, próximas a Donald Trump, candidato nas eleições presidenciais de novembro, e conhecidos por difundir teorias conspiratórias e racistas.

- 'Demonizar' os adversários políticos -

O rumor "já havia circulado na França e estava pronto para o momento adequado", indica Sebastian Dieguez, especialista em teorias da conspiração da Universidade de Friburgo, na Suíça.

A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, e a ex-primeira-dama americana Michelle Obama também foram alvo dos mesmos rumores em 2017 e 2018.

"O relato de uma pessoa 'secretamente trans' é, há muito tempo, uma característica da violência de gênero on-line", indica um relatório de 2021 do instituto de pesquisa americano Wilson Center.

Segundo este relato, "as identidades transgênero, especialmente se estão 'ocultas', são tão odiosas que, uma vez revelada a verdade, estas mulheres perderão toda a credibilidade e todo o poder", segundo o instituto.

"A questão de fundo é afirmar que as elites estão pervertidas, doentes e têm uma sexualidade estranha", aponta Dieguez. "O objetivo é demonizar um adversário político com os temas recorrentes da extrema direita americana, como a transidentidade, a homofobia e a pedofilia", afirma o pesquisador.

De acordo com essa visão de mundo, "os homens fortes devem restaurar a ordem e a moralidade, como Donald Trump ou Vladimir Putin", destaca o especialista.

(W.Uljanov--DTZ)