Tribunal dos EUA examina sucessão no império Murdoch
Um tribunal do estado de Nevada começou a examinar, nesta segunda-feira (16), o conflito em torno da sucessão entre o poderoso e controverso magnata da mídia Rupert Murdoch e quatro de seus filhos, um tema de enormes implicações para o futuro deste império, cujo carro-chefe é a emissora de TV conservadora Fox News.
Apesar dos protestos de um grupo de veículos de comunicação americanos, como o jornal The New York Times, que divulgou o caso, a CNN e a rádio pública NPR, as audiências são realizadas a portas fechadas diante de um delegado de sucessões em um tribunal de Reno, Nevada, no oeste do país.
As emissoras de TV americanas mostraram Rupert Murdoch, de 93 anos, chegando ao tribunal de braços dados com sua quinta esposa, Elena Zhukova.
No centro desta batalha está seu projeto de alterar os estatutos da fundação familiar para ceder o controle de seu império, integrado pela News Corporation, que conta com veículos como o Wall Street Journal e o New York Post nos Estados Unidos, The Sun no Reino Unido, The Australian e Fox Corporation (Fox News), para seu filho mais velho, Lachlan, após sua morte.
Em um enredo digno da série "Succession", em parte inspirada na história da família, três filhos de Rupert Murdoch - James, Prudence e Elisabeth são contra este projeto, pois a fundação contemplava inicialmente direitos de voto similares para os quatro descendentes.
Para muitos observadores, o tema terá consequências importantes para o futuro do império Murdoch, acusado de incentivar o populismo através de seus jornais e emissoras de TV nos países de língua inglesa, particularmente o Brexit no Reino Unido e a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos em 2016.
A emissora americana Fox News, na vanguarda da guerra ideológica dos conservadores americanos, foi acusada de alimentar a desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 e de ter amplificado as alegações de que as eleições presidenciais americanas de 2020 foram manipuladas em prejuízo de Trump.
A Fox News aceitou pagar, em abril de 2023, US$ 787,5 milhões (aproximadamente R$ 3,93 bilhões, na cotação da época) ao fabricante das máquinas de votação eletrônica Dominion Voting Systems, no centro das teorias conspiratórias do trumpismo sobre a eleição presidencial de 2020, das quais a emissora fez eco.
Na campanha às eleições presidenciais deste ano, os comentaristas da Fox News apoiam incondicionalmente Trump e criticam, às vezes de fora virulenta, a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris.
Lachlan Murdoch é considerado um defensor do viés populista e conservador do pai, que no outono boreal de 2023 o nomeou diretor da News Corp e Fox Corporation. Seus três irmãos seriam mais moderados.
- Proteger a família -
James Murdoch, que deixou a News Corp em 2020, declarou apoio a Kamala Harris.
Segundo o New York Times, os advogados de Rupert Murdoch "defenderam que [ele] tenta proteger James, Elisabeth e Prudence, garantindo que não poderão moderar a política da Fox ou perturbar suas operações por lutas incessantes na direção", escreveu o jornal.
Em uma decisão preliminar, o comissário de sucessões não se opôs à modificação da fundação, mas deve ouvir os argumentos de todas as partes durante sete dias de audiência, segundo o tribunal.
Depois, fará recomendações que a princípio não serão públicas, informou o tribunal à AFP.
A News Corp, cujo faturamento passou dos 10 bilhões de dólares (R$ 48 bilhões) em 2023, também está presente no setor editorial, com a HarperCollins, e em anúncios imobiliários.
(W.Novokshonov--DTZ)