Em Paris, Dior surpreende com desfile feminista e Saint Laurent volta às raízes
A Dior apresentou um desfile feminista e colorido na passarela parisiense, nesta terça-feira (26), uma instalação provocativa em tons pop em claro contraste com os pretos, brancos e dourados que dominam seu vestuário.
A estilista italiana Maria Grazia Chiuri se afastou abertamente de seus últimos desfiles, dominados por tons neutros e atmosferas sugestivas para lançar uma mensagem feminista que remetia, por suas cores e imagens, à atual moda "Barbie", após o sucesso nos cinemas do filme de Greta Gerwig.
"Não é ela": o lema gigantesco, reproduzido em telas cor-de-rosa, alternava-se com imagens publicitárias de donas de casa da década de 1940.
Na passarela, desfilavam vestidos de corte impecável, blusas brancas ou pretas, sedas azuladas, transparências pretas, casacos com estampas e um recorte recorrente: uma blusa, ou um vestido, assimétrico, deixando um ombro nu.
"Partimos da ideia do universo das bruxas, mas, sobretudo, dos estereótipos que as acompanham desde a nossa infância, ou das imagens estereotipadas das mulheres parisienses", destacou a estilista.
"São histórias que influenciam a forma como nos vemos" como mulheres, acrescentou.
Na plateia estavam estrelas como Charlize Theron, Jennifer Lawrence e Camille Cottin, a "influencer" Lena Situations e o ator Robert Pattinson.
- Torre Eiffel evanescente -
A instalação foi imaginada pela artista italiana Elena Bellantoni. A artista escolheu cerca de 300 imagens "sexistas" reproduzidas ao longo de décadas, até os nossos dias.
Trata-se de "inverter os espelhos e mudar as regras", explicou a artista.
Com esta colaboração, disse Marie Grazia Chiuri, buscou-se dar um "olhar ativo e crítico" a estas representações da feminilidade.
Uma das principais estampas da coleção é a Torre Eiffel evanescente em casacos ou saias. A malha abraça o corpo sem apertá-lo. As gazes sugerem as formas, enquanto os casacos são retilíneos, quase masculinos.
Os calçados vão de coturnos a sapatos com cadarços que se enrolam nas pernas até ao joelho, lembrando os modelos clássicos da Antiguidade.
- Saint Laurent entre o deserto e o mármore -
Anthony Vaccarello, diretor artístico da Saint Laurent, continua mergulhando no imponente legado do fundador da marca, especialmente em sua releitura da jaqueta saariana.
Desta vez, ele prestou homenagem às mulheres pioneiras da aviação, como a americana Amelia Earhart e a francesa Adrienne Bolland (a primeira a cruzar os Andes no comando de um avião).
A mulher Saint Laurent usa jaquetas saarianas em linho ou algodão nas cores terra ou grená, com gorro de pele ajustado, cinto e luvas longas de aviador combinando.
As jaquetas safári têm bolsos dianteiros 'oversized', assim como os brincos em metal.
Destaque ainda para os saltos altos, os vestidos de seda esvoaçantes e os tops transparentes sem mangas.
A coleção "se define por sua simplicidade e um retorno aos fundamentos" da casa e uma "silhueta mais folgada do que nas temporadas passadas", explicou Vaccarello em sua nota à imprensa.
Tudo isso aos pés da Torre Eiffel, em um cenário imitando mármore, que lembrava um pavilhão do arquiteto Mies van der Rohe.
- Roupas como bijuterias -
O casal de estilistas Victoria&Tomas decidiu, para a próxima temporada primavera/verão, que as roupas devem ser tratadas como bijuterias, bordando joias, broches e correntes diretamente na roupa feminina.
A mulher deve ser capaz de "colocar e tirar roupas, para que um vestido possa ser (transformado em) dois, ou três", explicou Victoria Feldman à imprensa após o desfile.
Os vestidos são amplos e com cortes transversais ao longo dos braços, ou das pernas. Broches e zíperes enlaçam a roupa na altura do peito, ou do antebraço. Blusas e calças podem, assim, ser transformadas em uma peça mais curta.
A marca usa uma paleta de cores suaves, nada estridentes, do branco resplandescente, durante o dia, ao preto azeviche, para sair à noite.
Recusam a roupa de escritório e as listras ultrafinas e inserem correntes na altura dos punhos e do peito. E há cobras bordadas.
"É um sinal de fertilidade, de proteção de algo positivo. Por isso, colocamos um pouco dela em todos os lugares", explicou à AFP Victoria, que foi mãe pela segunda vez há dois meses.
(V.Sørensen--DTZ)