Deutsche Tageszeitung - Israel restabelece sinal de agência de notícias após pressão dos EUA

Israel restabelece sinal de agência de notícias após pressão dos EUA


Israel restabelece sinal de agência de notícias após pressão dos EUA
Israel restabelece sinal de agência de notícias após pressão dos EUA / foto: © AFP

Sob pressão direta de Washington, Israel voltou atrás nesta terça-feira (21) em sua decisão de cortar o sinal ao vivo da agência de notícias americana Associated Press (AP) que mostrava a Faixa de Gaza, devastada por mais de sete meses de conflito entre o Exército israelense e o movimento islamista palestino Hamas.

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Um dia após o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) ter solicitado mandados de prisão contra o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, e líderes do Hamas, as forças israelenses prosseguiram com seus combates e bombardeios na Faixa de Gaza.

As tropas atacaram 70 alvos naquele território e lançaram uma operação que deixou oito mortos na cidade de Jenin, na Cisjordânia ocupada, segundo a Autoridade Palestina.

As operações militares, no entanto, foram ofuscadas pela decisão de Israel de cortar o sinal ao vivo da AP devido a uma suposta violação da nova lei de imprensa do país, que permitiu recentemente o fechamento do canal de TV do Catar Al Jazeera.

Os Estados Unidos expressaram preocupação e pediram às autoridades de Israel que voltassem atrás na decisão, condenada por veículos de comunicação e associações de defesa da imprensa.

"Ordenei a anulação da decisão e devolução do equipamento à agência AP", anunciou o ministro israelense das Comunicações, Shlomo Karhi.

A agência americana havia condenado "nos termos mais enérgicos as ações do governo israelense e o confisco" do equipamento que transmitia ao vivo da Faixa de Gaza.

A AP atribuiu a medida "ao uso abusivo, por parte do governo israelense", da nova lei votada no início de abril que autoriza a proibição da transmissão em Israel de meios estrangeiros que coloquem em risco a segurança do Estado.

- Regras -

O Ministério das Comunicações de Israel havia alegado em nota que a AP capturava regularmente fotografias da Faixa de Gaza a partir da varanda de uma casa em Sderot, na fronteira com o território palestino, "inclusive focando nas atividades dos soldados israelenses e na sua localização".

Karhi disse, ao anunciar a revogação da medida, que o Ministério da Defesa "deseja examinar a questão da retransmissão em relação ao risco" para as tropas israelenses que operam em Gaza.

A censura militar de Israel proíbe a publicação de imagens ou informações que possam comprometer a localização de soldados ou instalações militares israelenses.

"A AP cumpre as regras de censura militar de Israel, que proíbem a transmissão de detalhes como movimentos de tropas que possam colocar os soldados em risco", declarou a agência.

O Ministério das Comunicações também indicou que a Associated Press estava "infringindo a lei" ao permitir que a Al Jazeera "recebesse seu conteúdo".

Em resposta, a AP afirmou que a rede do Catar "é um dos milhares de clientes das transmissões ao vivo da agência".

- Condenações -

A ONU considerou "terrível" o corte do sinal da AP e a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) chamou a decisão das autoridades israelenses de "censura escandalosa".

O diretor global de notícias da Agence France-Presse (AFP), Phil Chetwynd, afirmou que a decisão de Israel é "um ataque à liberdade de imprensa".

O líder da oposição israelense, Yair Lapid, disse que "o governo enlouqueceu". "Não é a Al Jazeera, é um veículo de comunicação americano que ganhou 53 prêmios Pulitzer", publicou na rede social X.

- Pesadelo -

Os combates prosseguiam na cidade de Rafah - de onde fugiram mais de 800 mil pessoas, segundo a ONU - e em Jabaliya, onde as forças do Hamas se reagruparam. O Exército de Israel informou que eliminou combatentes em ambas as regiões.

As operações lançadas neste mês em Rafah, que Israel considera o último reduto do Hamas, agravaram a situação humanitária na Faixa de Gaza.

O centro de distribuição da agência, assim como o do Programa Mundial de Alimentos, ambos em Rafah, estão inacessíveis devido a operações militares israelenses, reportou a ONU.

"Não temos palavras para descrever o que acontece na Faixa de Gaza", disse ontem Edem Wosornu, do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.

"Descrevemos como uma catástrofe, um pesadelo, um inferno na terra. É isso e pior", afirmou Wosornu, alertando que 1,1 milhão de pessoas enfrentam "níveis catastróficos de fome" e 75% da população está deslocada.

(T.W.Lukyanenko--DTZ)