Milhares de indígenas marcham em Brasília por demarcação de terras
Milhares de indígenas fizeram uma caminhada nesta terça-feira em Brasília para exigir segurança e a demarcação de suas terras, um tema que opõe o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso, de maioria conservadora.
“Hoje é a marcha com o tema da emergência indígena”, disse à AFP Jaqueline Arandurah, líder do povo Guarani Kaiowá, que se concentra no Mato Grosso do Sul. “Já fazem mais de 400 dias do governo do presidente Lula, e nossas terras não foram demarcadas”, ressaltou.
A líder acrescentou que marcha "para dizer ao governo que é preciso garantir os direitos dos povos indígenas para amenizar a violência nos territórios".
A demarcação das terras indígenas foi uma promessa de campanha de Lula, que retomou essa política, abandonada por seu antecessor Jair Bolsonaro. Além disso, a demarcação contribui para a preservação do meio ambiente, apontam cientistas.
Até o momento, foram homologadas durante o governo Lula dez novas terras indígenas, incluindo duas anunciadas na semana passada. Mas os manifestantes exigem mais ações.
A Esplanada dos Ministérios foi tomada por cocares, arcos e flechas, enquanto homens e mulheres de diferentes povos origináros brasileiros caminhavam em direção ao Congresso Nacional, onde foi realizada uma sessão solene.
A marcha incluiu danças e cantos, como parte do acampamento anual Terra Livre, que acontece nesta semana na capital do país.
A demarcação de terras é um tema polêmico no país. Seus críticos se concentram no poderoso agronegócio e em seus aliados no Congresso, que mantiveram na lei uma tese que limita os direitos dos indígenas sobre seus territórios, o chamado "marco temporal".
“Isso é uma ofensa. É dizer que somos os invasores, o que não somos", criticou Walderir Tupari, do povo Tupari, radicado no estado de Rondônia, ao afirmar que a Constituição do país está sendo violada. "A gente não está aqui desde 1988. Estamos aqui há muito tempo."
O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a tese inconstitucional em setembro passado, mas deve repetir o debate sobre a nova lei. O ministro do Supremo Gilmar Mendes decidiu ontem suspender todas as ações judiciais sobre a constitucionalidade da lei, até que o STF se pronuncie definitivamente sobre o tema.
(P.Hansen--DTZ)