França e aliados prometem mais de US$ 2 bilhões ao Sudão após um ano de guerra
A França e os seus aliados prometeram mobilizar mais de 2 bilhões de dólares (10,2 bilhões de reais na cotação atual) para aliviar a crise humanitária no Sudão, no final de uma conferência em Paris que buscou tirar do "esquecimento" este país imerso em uma guerra sangrenta.
"No total, podemos anunciar que serão mobilizados mais de 2 bilhões de euros [valor semelhante em dólar]", declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, no final da conferência internacional.
A reunião, copresidida por França, Alemanha e União Europeia, teve como objetivo coordenar os esforços de mediação para acabar com o conflito que começou há um ano neste país de 48 milhões de habitantes.
A guerra no Sudão começou em 15 de abril de 2023 entre o Exército do general Abdel Fattah alBurhan e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR).
O conflito já deixou milhares de mortos, 8,5 milhões de deslocados e uma catástrofe humanitária, com cerca de 25 milhões de pessoas necessitadas de ajuda, mais da metade da população.
"Isso é mais do que um conflito entre duas partes. É uma guerra travada contra o povo sudanês", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Nova York.
"Ataques indiscriminados que matam, ferem e aterrorizam civis podem constituir crimes de guerra e crimes contra a humanidade", acrescentou.
Macron sublinhou que o montante prometido "poderá responder às necessidades mais urgentes" da população, acrescentando que os países da UE se comprometeram com quase metade da ajuda total.
Antes da conferência, os compromissos ascendiam a 190 milhões de euros [975 milhões de reais na cotação atual], lembrou.
As Nações Unidas, no entanto, estimaram o montante da ajuda necessária ao Sudão em 3,8 bilhões de dólares (19,5 bilhões de reais).
- 'Cessar as hostilidades' -
Tanto a invasão russa da Ucrânia como o conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza chamaram a atenção internacional nos últimos meses, relegando a guerra no Sudão para segundo plano.
"Não podemos nos esquecer de lugares como o Sudão", alertou a diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Cindy McCain, em entrevista à AFP. A crise alimentar que o país sofre poderá ser "a maior da história", alertou.
Com esta conferência, "nosso dever era mostrar que não nos esquecemos do que está acontecendo no Sudão e que não existem padrões duplos", disse o presidente francês.
A conferência internacional, além de focar na questão humanitária, incluiu uma reunião ministerial sobre assuntos políticos com a participação de embaixadores e ministros das Relações Exteriores.
Em sua declaração final, os participantes apelaram a "todos os atores estrangeiros" para cessarem seu apoio armamentista, e aos beligerantes para "cessarem imediatamente as hostilidades".
Ministros dos países vizinhos do Sudão (Chade, Líbia, Quênia, Djibuti, Sudão do Sul, Egito, Etiópia), do Golfo (Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita) e do Ocidente (Estados Unidos, Reino Unido, Noruega) participariam da reunião política, a portas fechadas.
Organizações regionais como a União Africana, a Liga Árabe e a IGAD – um bloco de países da África Oriental – também estiveram presentes, juntamente com agências da ONU.
"Só a pressão internacional" pode levar as partes em conflito a negociar, disse o alto representante de política externa da União Europeia, Josep Borrell.
A guerra forçou quase 1,8 milhão de pessoas a abandonar o país e causou o deslocamento interno de pelo menos 6,7 milhões de pessoas.
Precisamente devido à chegada de pessoas deslocadas, mais de 3,4 milhões precisam de uma resposta humanitária "urgente" no Chade, alertou a ONG Ação Contra a Fome.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, por sua vez, alertou para uma nova escalada de violência, à medida que as partes em conflito armam os civis.
"O recrutamento e e o uso de crianças pelas partes em conflito também é motivo de grande preocupação", acrescentou.
"A população civil sofre com a fome, violência sexual maciça, massacres étnicos em grande escala e execuções. [...] No entanto, o mundo continua olhando para o outro lado", denunciou Will Carter, diretor para o Sudão do Conselho Norueguês para os Refugiados.
(V.Sørensen--DTZ)