Espanha aumenta a pressão para combater o racismo no futebol
Criticadas pelo excesso de passividade, as autoridades espanholas aumentaram a pressão nesta terça-feira (23) para lutar contra o racismo no futebol, dois dias após o episódio mais recente de insultos sofridos pelo atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid, o que gerou uma onda de indignação internacional.
Após as primeiras reações na segunda-feira, quando as críticas ao ataque contra o brasileiro chegaram de todo o mundo, e da abertura de uma investigação pelo Ministério Público de Valência por suposto crime de ódio, novas ações foram anunciadas nesta terça-feira.
A polícia espanhola prendeu nesta terça três jovens em Valência suspeitos de "comportamentos racistas ocorridos no domingo passado no jogo entre Valencia CF e Real Madrid" no estádio Mestalla, onde o atacante foi vítima de insultos como "macaco".
Os jovens, de entre 18 e 21 anos, foram interrogados e deixados em liberdade durante o andamento do processo judicial, indicou à AFP um porta-voz da polícia. "A investigação, que teve a colaboração do 'Valencia Club de Fútbol', continua aberta para identificar outros possíveis autores de comportamentos similares", afirmou a polícia em um comunicado.
Em um vídeo divulgado nesta terça pelo canal La Sexta, gravado no domingo quando os jogadores do Real Madrid chegaram a Valência, mostra torcedores cantando "Vinícius, você é um macaco!".
Ao mesmo tempo, a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) informou que o árbitro de vídeo do jogo entre Real Madrid e Valencia pela 35ª rodada de LaLiga, muito criticado por sua gestão de uma partida marcada por vários incidentes, foi substituído para a próxima rodada.
O trabalho de Iglesias Villanueva foi muito questionado porque, após a discussão entre Hugo Duro e Vini Jr ao final da partida, ele mostrou ao árbitro de campo apenas a repetição do gesto que rendeu o cartão vermelho direto ao atacante brasileiro, sem exibir a agressão anterior do jogador espanhol.
- "O racismo é normal" -
Nesta terça-feira, a polícia deteve outras quatro pessoas como parte da investigação sobre o boneco com o uniforme do atacante de Vinícius Júnior pendurado em uma ponte da capital espanhola no fim de janeiro.
Os detidos seriam supostamente responsáveis por um "crime de ódio", afirmou a polícia espanhola em um comunicado.
O boneco foi pendurado para simular um enforcamento ao lado de uma faixa com a frase "Madri odeia o Real".
Após o ataque, o Real Madrid denunciou um "ato lamentável e repugnante de racismo, xenofobia e ódio" contra o brasileiro, de apenas 22 anos, e afirmou que esperava a apuração "de todas as responsabilidades daqueles que participaram em um ato tão desprezível".
Alvo frequente de insultos racistas desde que chegou ao Real Madrid em 2018, Vinícius explodiu no domingo depois de ser ofendido em Valência.
"Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é normal na LaLiga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam", lamentou Vini Jr. nas redes sociais após a partida.
"Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas", acrescentou.
- "É necessário ser antirracista" -
As críticas provocaram muitas reações no exterior e na Espanha, onde o racismo nos estádios, e em parte da sociedade, é denunciada há muitos anos por jogadores e associações antirracistas, que consideram que o problema não é tratado com seriedade no país.
Acusada diretamente, LaLiga se defendeu alegando que não tem poder suficiente para determinar sanções. A liga afirma ter apresentado oito denúncias na atual temporada por ataques contra Vini Jr que, em sua maioria, não geraram consequências consideráveis até o momento.
A imprensa espanhola também pediu ações mais firmes. "Não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”, escreveu em sua primeira página o jornal esportivo Marca."Basta", afirmou o Mundo Deportivo.
"As autoridades não têm consciência real do que está acontecendo", lamentou o técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, em entrevista coletiva nesta terça-feira. "As instituições têm uma oportunidade, especialmente agora, para adotar medidas radicais sobre este tema importante", insistiu.
Em um comunicado, o Conselho Superior dos Esportes (CSD) anunciou que pretende apresentar a proposta, tanto à Federação Espanhola de Futebol como para LaLiga, "o desenvolvimento de uma campanha de conscientização" direcionada aos torcedores, assim como "ações pontuais" para lutar contra o "flagelo do racismo" e "para combater os discursos de ódio no esporte".
"Temos que dizer claramente que somos antirracistas porque na Espanha estamos combatendo este tipo de comportamento", afirmou a porta-voz do governo espanhol, Isabel Rodríguez.
(P.Hansen--DTZ)