Proposta de 'redução' das energias fósseis na COP28 provoca crise em negociação da COP28
Um rascunho da declaração que propõe a "redução" dos combustíveis fósseis como única opção para lutar contra a mudança climática provocou uma série de críticas na COP28, e deixou no ar o fechamento oficial da cúpula, previsto para esta terça-feira.
O texto, elaborado pela presidência da COP28 após dias de negociações complicadas, fica aquém da exigência de "eliminar" progressivamente ("phase out") essas energias, responsáveis pelo aquecimento global.
Os chefes negociadores entraram no início da noite em uma sala do centro de convenções de Dubai para tentar encontrar uma saída, sob o comando do presidente da COP28, Sultan Al Jaber, comprovaram repórteres da AFP.
As decisões nas conferências climáticas da ONU são tomadas por consenso.
Esta é a maior COP já organizada até hoje.
- "Muito pela frente" -
As nações que assinaram o Acordo de Paris de 2015 "reconhecem a necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentáveis das emissões" de gases de efeito estufa e, consequentemente, pedem "ações que possam incluir" toda uma bateria de medidas, segundo o rascunho.
Entre elas, está a "redução do consumo e produção".
Também propõe como opção "eliminar" ("phase out") os subsídios "ineficientes" aos combustíveis fósseis, e fazê-lo "o mais rápido possível".
O texto renova o apelo a favor das energias renováveis, inclui a energia nuclear como opção "limpa" e também as polêmicas tecnologias de retenção e captura de CO2, ainda em desenvolvimento.
"Ainda temos muito pela frente", reconheceu o presidente da cúpula, o emiradense Sultan Al Jaber.
"Apreciamos o esforço de muitos neste texto", explicou um porta-voz do Departamento de Estado. Porém, a questão dos combustíveis fósseis "deve ser reforçada substancialmente", afirmou.
É "claramente insuficiente", afirmou a ministra de Transição Ecológica espanhola, Teresa Ribera.
O texto é "um retrocesso", criticou a principal aliança de organizações ambientalistas, a Climate Action Network.
"As nossas vozes não foram ouvidas", explicaram os pequenos Estados insulares, os mais ameaçados pelo aumento do nível do mar.
- "Corrida contra o tempo" -
"Estamos em uma corrida contra o tempo" para encontrar um consenso, destacou o secretário-geral da ONU, António Guterres, presente em Dubai para encorajar os diplomatas, depois de mais de dez dias de longas reuniões.
Guterres defendeu uma menção específica à eliminação das energias fósseis.
Mas "isso não significa que todos os países devam abandonar as energias fósseis ao mesmo tempo", admitiu o chefe da ONU perante os jornalistas.
A COP de Dubai é a primeira a fazer um balanço da ação climática desde o Acordo de Paris, que impôs o objetivo de tentar manter a temperatura média global em +1,5ºC em comparação com a era pré-industrial.
A intenção em Dubai era definir novas metas mais ambiciosas, acelerar a transição energética e as medidas de adaptação.
O texto pede que os países apresentem novos planos para reduzir as emissões de gases até o final de 2024.
Al Jaber é presidente da companhia petrolífera nacional do seu país, o que levanta suspeitas há meses.
Os cientistas insistem que as emissões de gases do efeito estufa não estão diminuindo e, portanto, é necessário adotar medidas drásticas, o mais rápido possível.
O objetivo compartilhado por representantes das quase 200 nações reunidos em Dubai é alcançar a neutralidade de carbono, ou seja, que as emissões e capturas somem zero, até 2050.
A COP28 confirmou o Azerbaijão como sede da próxima COP, e o Brasil no ano seguinte.
Ao fazer seus agradecimentos, a ministra do Meio Ambiente Marina Silva pediu a redução da dependência dos combustíveis fósseis.
(W.Budayev--DTZ)